Trezedefevereirodemilnovecentosevinteedois. Eclode em São Paulo um movimento intelectual libertário, vanguardista, anárquico, através da pintura, escultura, arquitetura, música e literatura, a “Semana de Arte Moderna”, que abalou as bases acadêmicas das artes no país e que agora repousa na memória coletiva de parte da população privilegiada pela educação de qualidade. Curiosamente, a fotografia, já amplamente utilizada à época, foi “esquecida”.
Hoje, exatos 90 anos após, a olvidada fotografia aqui relembra Oswald e Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Anita Malfatti, Vicente do Rego Monteiro, Brecheret, Di Cavalcanti, Tácito de Almeida, nomes que estiveram lá naquele momento histórico para a cultura nacional.
Porém, a Grafia da Luz não deixa escapar neste projeto os que daquela atmosfera se apropriaram feito Tarsila do Amaral e o paraense Ismael Nery (que estavam na Europa em 22), à intelectual Pagu (então uma adolescente), como se espraie no tempo com um contemporâneo, José Celso Martinez, dramaturgo, ator e diretor que até hoje prega em suas peças a “brasilidade antropofágica”.
Esta exposição não tem pretensões didáticas nem históricas. Não quer escrever manifestos (há algo mais antiquado nas artes?), teses, nem troças. Queremos mostrar que Macunaíma está vivo na Amazônia depois de uma temporada no Rio onde foi enredo da Portela em 1975. Abaporu fugiu da Argentina e se agiganta em um enorme espelho d’água high-tech de milhões de pixels. Que as mãos femininas que inspiraram o escritor Menotti del Pichia seguem desfalecidas no chão até que ele, o poeta, também acorde de seu transe.
Pois a fotografia tem este poder.
Poderíamos ter esperado o “bolo das 100 velas” para fazer a exposição. Porém artista paraense “nasce de 7 meses” quando sonha. Mais que um deslumbre nostálgico, queremos desde já provocar, trocar estática pela estética, derrubar mitos e levantar altares, entronizar novos reis de naipes diferentes. Pensar o que estes 10 anos até o “centenário” nos reserva.
Queremos demitir cartomantes e tomar mão de nossas vidas. Jogar fora a necessidade do aplauso vindo “lá de fora”. Tratar dos jogos de poder e azar nos processos analíticos, midiáticos e mercadológicos. Sexo e entorpecentes. Falar sobre o nosso futuro, o destino da nossa arte e do país. Assim como os desenhos grafitados pela artista convidada Drika Chagas nas paredes, chão e teto da galeria com estilização de pinturas pré-históricas de Monte Alegre-PA e traços das cerâmicas arqueológicas Marajoaras e Tapajônicas. Sim, pois não se pode considerar o “por vir” sem reconhecer de onde viemos.
Entre esboços rupestres de 9.000 anos a.C. e a cultura digital, queremos mostrar nosso rosto pintado de urucum ou no Photoshop. Viva a diversidade! Viva a utopia de um mundo melhor. Viva as frases feitas e desfeitas. Principalmente as ingênuas, vindas das crianças. O que farás da tua vida nos próximos 10 anos? Até Trezedefevereirodedoismilevinteedois?
Curador e idealizador da mostra
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Parabéns Guy, belo texto e, pela sua competência, teremos belos trabalhos expostos, pena que eu não esteja em Belem para ir visitar a expo.
By: Izabel Delmondes on 10 de February de 2012
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