Guy Veloso. Ritual de autoflagelação, Bahia, 2014 / Self-flagellation ritual, Brazil, 2014.
Port abaixo
Numinous Gestures
Paulo Miyada, curator
It may be possible to say that the picturing production of some artists gets closer, intensively, to different poles of the pictorial field, asserting itself through color, light or line, to name a few possibilities. In this case, it is appropriate to say that the work of Guy Veloso choses the work with light. With vibrant and saturated colors, like much of what’s most renowned in the production of the Belem’s artists, his photographs stand to indulge to the full enjoyment of the chromatic game, making his coppery color palette proves through a dense shadow. Such darkness, which offers a nocturnal aura, even for images captured under the blazing sun of noon, would cover up the whole colors, not for the sources of light and shields that reflect and tint its coloring. It is significant therefore that these screens are, in most cases, bodies engaged in rites of belief which are, they, acts of searching for some kind of enlightenment.
For years involved with a pilgrimage in search of religious activities, cults and pagan celebrations of several kinds, the artist went beyond the comfort line that divorces the curious photographer of a cultural event. Guy Veloso converted into a complicit of, sometimes, contradict acts of belief, and share his services with remarkable assiduity, even those that provoke contradictory reactions to ordinary citizens, like the penitents from the cities of Barbalha, Tomar do Jeru, Juazeiro, Sergipe and Bahia. In these places, he allows his photographs to explore gestures and borderline features, very close to physical exhaustion, pain, delirium and passion – in all the different meanings that the word goes. This effect of complicity is not only the frequency of Guy Veloso’s visits to those rituals, it becomes probable by the very nature of the photographer gestures in relation to the movements around him.
Even in less shocking backgrounds, but no less intense, like Círio de Nazaré (Belém – PA), he shoots precisely close the crowd of pilgrimages around the rope that anticipates the passage of the sacred image in translation. Among crashes, stumbles and falls, he takes part of the crowd of constrained bodies, looking for the best views for his 35mm lens. So it’s no wonder that in his extensive collection of photos it can be found images in which diverse events as Círio de Nazaré, Candomble, Carnival, and even ballet, abruptly come to share similar gestures to each other. These are the motions of belief and gestures of the artist that are on the same luminous quality of movement, or, as the artist could want, in the same gesture numinous quality.
English version and proof reading: Marcio Rolim.
==================================
Gestos Numinosos
Paulo Miyada, curador
Talvez seja possível dizer que a produção imagética de alguns artistas filia-se de forma mais aguçada a polos diferentes do campo pictórico, afirmando-se através da cor, da luz ou da linha, para nomear algumas possibilidades. Nesse caso, será legítimo dizer que a obra de Guy Veloso prima pelo trabalho com a luz. Com cores saturadas e vibrantes, como muito do que há de mais célebre na produção de artistas de Belém, suas fotografias resistem a entregar-se ao gozo pleno dos jogos cromáticos, fazendo com que sua paleta de cores acobreadas se revele através de uma densa sombra. Tal negrume, que empresta uma aura noturna mesmo para imagens captadas sob o sol inclemente do meio-dia, encobriria por inteiro seus cromos, não fosse pelo jogo de fontes de luz e pelos anteparos que a refletem e matizam sua coloração. É significativo, portanto, que esses anteparos sejam, no mais das vezes, corpos engajados em ritos de crença que são, eles mesmos, atos de busca por alguma espécie de iluminação.
Envolvido durante anos com uma peregrinação em busca de movimentos religiosos, cultos e celebrações pagãs de diversas naturezas, o artista ultrapassou a linha de conforto que separa o fotógrafo curioso por uma manifestação cultural. Guy Veloso tornou-se cúmplice de gestos de crença muitas vezes contraditórios entre si, e compartilha seus cultos com notável assiduidade, mesmo daqueles que provocam reações contraditórias nos cidadãos comuns, como os dos penitentes das cidades de Barbalha, Tomar do Jeru e Juazeiro no interior do Ceará, Sergipe e Bahia. Nesses lugares, permite que suas fotografias explorem gestos e feições limítrofes, muito próximas do esgotamento físico, da dor, do delírio e da paixão – em toda a polissemia que a palavra carrega. Tal efeito de cumplicidade não se deve apenas a frequência das visitas de Guy Veloso a tais ritos, isso se torna possível pela própria natureza dos gestos do fotógrafo em relação aos movimentos que o cercam.
Mesmo em contextos menos chocantes, nem por isso menos intensos, como o Círio de Nazaré (Belém-PA), fotografa desde muito perto a multidão que cerca a corda que antecipa a passagem da imagem sagrada em transladação. Roça, tromba, apoia e mistura-se aos corpos pressionados, procurando pontos de vista aproximados para a lente 35 mm de sua câmera. Assim, não é à toa que em sua ampla coleção de fotos seja possível encontrar imagens em que eventos tão distintos como o Círio, o Candomblé, o carnaval e, mesmo, o balé de repente passam a compartilhar gestos afins entre si. São os gestos de crença e os gestos do artista que se encontram numa mesma qualidade de movimento luminoso, ou, como poderia querer o artista, numa mesma qualidade de gesto numinoso.
[…] Guy Veloso. Bíptico. Espetáculo de DANÇA e grupo de PENITENTES.Penitentes de Sergipe (Slide, 2002) e Cia Moderno de Dança, Theatro Waldemar Henrique, Belém-PA (digital, maio de 2014).No mesmo asunto, texto curatorial de Paulo Miyada:https://guyveloso.wordpress.com/2012/09/13/1084/ […]
By: Dance and religiosity | Fotografia Documental on 26 de maio de 2014
at 15:09